Reflexões
Português é uma disciplina que projeta os alunos à reflexão e questionamentos sobre vários tipos de tema, que muitas vezes não precisa de estar relacionado diretamente com a obra/tema em estudo. Isto acontece principalmente porque a professora não se preocupa apenas em dar os conteúdos, como também se preocupa em nos fazer refletir sobre eles. A motivação e empenho com que a professora entrega a mensagem das diferentes matérias é algo impressionante, mostra que tem amor à sua profissão, o que é um grande alvo na minha vida, fazer algo que goste para que possa dar sempre o melhor de mim.
Começamos o ano por fazer uma leve abordagem daquilo que seria estudar Vieira, fazendo uma contextualização histórica e podendo assim perceber as razões que levaram a este homem, que para o seu tempo já era um grande revolucionário no que toca aos direitos humanos, a criticar, de maneira tão sábia e apelativa a sociedade nas colónias através de uma alegoria comparando os homens aos peixes. Vieira era um homem religioso que no Brasil, se sentiu incomodado com a maneira como os colonos tratavam os nativos brasileiros, admitindo que estes, eram pecadores e falsos moralistas.
No decorrer da obra, o orador, estabelece sempre uma ligação com o conceito predicável, "Vós sois o sal da terra", que resumidamente significa que os pregadores da palavra de Cristo, têm como função levar a palavra de Deus ás pessoas e não permitir que estas sejam corrompidas por Satanás. No inicio da obra é nos solicitado a refletir, será que são os pregadores que não estão a converter os ignorantes? Ou será que são os ignorantes que estão a deixar de o ser, e por isso, não se deixando corromper pelas palavras "divinas"? Esta questão que coloquei, é baseada no facto da tentativa de conversão explicita na obra, mas sabemos que o que os colonos faziam não era de facto sábio, mas também não era muito diferente daquilo que o cristianismo pregava na época, passo a citar citações do livro tão adorado por muitos e fazendo ligação com as atitudes hipocritamente criticadas pelo mesmo livro:
Êxodo 21:20-21
Com a aprovação divina, um escravo pode ser surrado até a morte sem punição para o seu dono, desde que o escravo não morra imediatamente.
Será que os negros são tão diferentes dos índios assim? Ambos tiveram as suas terras roubadas e invadidas, ambos tiveram a sua nação escravizada, a sua cultura assassinada eram tratados como mercadoria, mas a visão que "Deus" tinha dessas pessoas era diferente, assim como a visão dos escravos do livro por "Ele" inspirado. Será que a necessidade de explorar os outros era maior do que a de fazer o bem?
20 - Deuteronômio 20:13
E, se o Senhor, teu Deus, a entregar nas tuas mãos, passarás a fio de espada todos os seus varões. As mulheres, porém, as crianças, o gado e tudo o que houver na cidade, todos os seus despojos, os tomarás para ti, e desfrutarás da presa dos teus inimigos, que o Senhor, teu Deus, te houver entregue.
Não seria a exploração do próximo um grande pecado capital? A ganância parece-me , se por ordem "divina" é aceitável e praticável? Vejo algumas incoerências aqui, que foi um dos conteúdos gramaticais aprendidos neste primeiro período.
Juízes 19:22-29
Um grupo de depravados sexuais batem na porta de um ancião pedindo para que ele lhes entregue um homem que ali tinha entrado. Ao invés disso o homem lhes oferece sua filha virgem e a concubina do homem. "Eis que a minha filha virgem e a concubina dele tirarei para fora ; humilhai-as a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos, porem a este homem não façais loucura semelhante." O homem lhes entrega a concubina. Eles a usam até o amanhecer. Depois disso o homem corta seu corpo em doze partes e envia cada uma das partes para cada uma das doze tribos de Israel.
Esta é deveras a minha preferida, pois é aqui onde a hipocrisia e a distorção do discurso reina. A hipocrisia, pois é moral, segundo o tão prestigiado livro, abdicarmos da nossa fé e amor ao próximo para salvar a nossa pele, entregando outros, com o intuito de cumprir a nossa pena. Ainda refiro a distorção do discurso, pois uma parte destes versículos, e os outros relacionados a este sucedido, "(...) porem a este homem não façais loucura semelhante.", é usada para condenar a homossexualidade, dizendo que é imoral um homem amar outro, enquanto que o que realmente está dito aqui, é que não se deve violar homens, e sim mulheres. Mais uma vez uma grande prova que "Deus" ama a todos, incluindo às mulheres.
Eu não me vou alongar mais com este tipo de citações, porque se o fizer, teria que criar um portefólio apenas para citar a tamanha incoerência bíblica.
Apesar de ter tido estes pensamentos ao ouvir o sermão, também consegui sentir o tão famoso estalo de Vieira. Pois ao contrário de sua inspiração, o sermão é atemporal, assim como o orador o era. Apesar dos seus preconceitos enraizados devido à manipulação divina, este homem já consegui pensar à frente de seus contemporâneos, assim como a maior parte dos escritores que ajudaram na evolução da literatura, já que é indispensável dizer que é o avanço da arte, que permite o avanço social e humano.
Às vezes, damos por nós a agir como os peixinhos criticados, e o facto de nos apercebermos disso é fantástico e é o que nos motiva à mudança, para que consigamos deixar de o ser.
Mas, a critica do Jesuíta a um dos peixes fez me pensar e por fim, discordar com a ideia. O peixe voador é criticado por querer ir alem daquilo que lhe foi imposto por "Deus", ele por ter desenvolvido capacidade de sair da água e voar mais alto, por seu próprio mérito é tomado como presunçoso e como um ambicioso desmedido. Mas será que querermos ir mais longe do que aquilo que os outros acham que podemos é algo errado? Seria moralmente incorreto abrir as asas e voar? Será que por nosso saber, trabalho e dedicação ser maior do que a dos outros devemos fechar as asas e descer, para não sermos taxados de exibicionistas? A meu ver não. Nós fomos criados com a capacidade de evoluir, não só geneticamente mas também espiritualmente e como pessoas, para que possamos nos superar a cada dia e ser a cada dia uma versão melhor do que éramos no dia anterior.
Este Período foi de facto uma grande evolução, poder trabalhar os conteúdos com a mente apta para tal, deixa-nos capazes de conseguir refletir, e criar relações entre os temas abordados e a nossa vida. Sinto que poderia ter obtido resultados melhores, se tivesse estudado mais para esta disciplina, o que sinceramente não aconteceu, apenas revi a matéria nos dois dias antecedentes aos testes. Se tivesse organizado melhor o meu tempo, o que não é fácil perante a quantidade de coisas que tivemos que fazer nestes meses, poderia focar em todas as disciplinas, não dispensando umas para estudar para outras. Talvez se ter uma organização de estudo fosse já, uma constante na minha vida, as notas seriam mais altas. Isto é um desafio que tomarei no segundo período, melhorar as notas partindo de uma organização mais acentuada.